sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Cinismo natural


Hoje eu não consegui dormir. Dormir? Esses pequenos pedaços de morte. Como os odeio! Mas talvez eu já esteja literalmente morta. Pior ainda é pensar que talvez eu esteja literalmente viva. Mas enfim, vim para desejar-lhes um bom dia, sim? Comam carne, leiam, façam exercícios físicos. Mas não se apaixonem, viu? Que o amor é algo doentio! Meu Deus, onde já se viu...ver resplandecer uma luz atrás de alguém, igual a quem se vê em todo lugar. Você não é especial. Amor, não me leve a mal, que o meu cinismo é fruto do meu pessimismo natural. E eu não me envergonho que às vezes eu mude de opinião, perdão, se a minha constante inconstância lhe causa confusão.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Acontece


Bateram à minha porta em 6 de agosto, 
aí não havia ninguém 
e ninguém entrou, sentou-se numa cadeira 
e transcorreu comigo, ninguém. 

Nunca me esquecerei daquela ausência 
que entrava como Pedro por sua causa 
e me satisfazia com o não ser, 
com um vazio aberto a tudo. 

Ninguém me interrogou sem dizer nada 
e contestei sem ver e sem falar. 

Que entrevista espaçosa e especial!


Pablo Neruda (Últimos Poemas)